
• MARISA MOKARZEL
"TERRA, DESCONSTRUÇÃO | NESTOR BASTOS JUNIOR
Nestor Bastos é arquiteto, pintor e gravador que se destaca no sistema das artes visuais do Pará com um percurso artístico pontuado por exposições históricas, que evidenciam o desenho de um circuito de arte presente nos anos 1960 e 1970.
Em 1968, Nestor participou do Salão de Artes Plásticas da Amazônia e em 1970 integrou a Pré-Bienal de São Paulo. Foi um dos artistas que expôs na 1° Bienal Amazônica de Artes Visuais, em 1972, quando ganhou o 1° prêmio em xilogravura. Ainda neste mesmo ano fez parte da Universiartes I, Mostra Universitária de Arte UFPA, sendo contemplado, em parceria com Omar Pinheiro, com os 1° e 2° prêmios. Na companhia de Rui Meira e Benedito Melo, em 1975, expôs na Fundação Cultural do Maranhão, em São Luís. No ano seguinte integrou a coletiva Arte Agora 1 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1977 expandiu sua atuação para o campo internacional com a coletiva Artistes de 12 Amazonie, que aconteceu no Museu do Homem, Seção América do Sul, em Paris na França.
Por ocasião da reabertura do Museu Histórico do Estado do Pará, em 2008, quando foi realizada a exposição Contigüidades, com a contribuição de obras do acervo do museu e de diferentes coleções particulares, Nestor Bastos não podia faltar, ele estava presente nessa narrativa que apresentava uma parcela da história da arte no Pará, dos anos 1970 aos anos 2000.
A ativa participação do artista no circuito das artes visuais, no entanto, após os anos 1960/1970, foi afetada por um processo de suspensão e substituição pela arquitetura. Os papéis inverteram-se e o arquiteto se sobrepôs, emergindo em muitas andanças pelo estado do Pará, Amapá, dedicando-se a urbanização de favelas. Apenas recentemente, em 2019, Nestor decide retomar o caminho suspenso. Monta um ateliê e volta-se novamente pro universo da arte. O novo navegar reintegra os fios da trama e preenche as lacunas com a vivência e a percepção de uma paisagem ora poética, ora corroída pelo fogo, pelos crimes ambientais.
O conjunto de obras que compõem a exposição TERRA, DESCONSTRUÇÃO, são constituídas por gravuras em linóleo, pinturas abstratas em grandes dimensões e pinturas sobre madeira, acompanhadas pela impressão de fotografias. O que prevalece é a sutileza da imagem, o domínio da tinta, a destreza ao cavar o linóleo, ao imprimir o papel. Minúcias que correspondem às técnicas de um artista exigente com o seu fazer, com a percepção de mundo, lançada em cada figura exposta.
Da paisagem de palafitas, advindas de suas andanças enquanto urbanista, surge o poético voo dos pássaros, o movimento entre madeiras que deixam entrever brechas de luz. Na pintura entremeada com fotografia, revela-se o discurso político em que se inscrevem terras deterioradas, florestas queimadas, destruídas. Em algumas das cenas pode-se ver o pequeno detalhe verde amarelo. Pedaços de céu, pedaços de fogo denunciam crimes ambientais, descasos, irresponsabilidades. As sutilezas das denúncias também estão presentes nos quadros de grandes dimensões, nas referências às flechas indígenas que
se transformam em varas que se transformam em linhas.
Nas sutis paisagens que traduzem o retorno de Nestor Bastos, está a fluidez de um caminho tecido com os vestígios de um viver contínuo com a arte, mesmo quando esta parecia ter se recolhido no abrigo do tempo."
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• YASMIN CABRAL GOMES
TERRA, DESCONSTRUÇÃO | NESTOR BASTOS JUNIOR
"quando falamos de Nestor Barros Júnior, sabemos de sua maestria e sensibilidade para a arte contemporânea- além de ser um grande arquiteto.
em “Terra, Desconstrução”, amostragem fundamentada por uma diversidade de técnicas como fotografias em telas que mesclam-se em pinceladas de tinta óleo, xilogravuras e pinturas em madeira, que tem como narrativa principal, as problemáticas dos crimes ambientais.
Nestor, apropria-se de um suave hard edge com doses de um expressionismo abstrato para gerar cores enérgicas, texturas e pinceladas carregadas que proporcionam movimento aos olhos do visitante, pinceladas estas que evocam perfeitamente a ardência poética do fogo, muito bem representadas pelo artista, que entram em conflito ao fundir-se com o céu azul.
além disso, Nestor brinca com um jogo de nuances entre seus trabalhos, ora carregados de um verde musgo, ora tomados por uma tremenda escuridão que invade e sufoca por completo.
assim como em suas pinturas, as xilogravuras brincam com a liberdade ou ausência dela, aqui representada por pássaros em descanso ou em suaves voos, trazendo à tona um jogo de intimismo, que mistura-se às linhas raivosas e vorazes que compõe as brechas de possíveis janelas, resultando em conflito e calmaria na mesma intensidade."


